Coimbra Maio 2022
Querido Padre Jean Gailhac
Em 1890 concluiu a sua viagem pela vida terrena, gozando agora a plenitude da Vida em Deus. Tudo, para si, é LUZ, BELEZA e AMOR. Por vezes pergunto a mim mesma como será olhar e acompanhar, a partir do coração da Trindade, o Instituto das Religiosas do Sagrado Coração de Maria que fundou em 1849 para o ajudar a realizar o seu grande sonho na terra: “Conhecer a Deus e torna-lo conhecido, amar a Deus e fazê-lo amado, proclamar que Jesus Cristo veio para que todos tenham vida” (Cf. Const. 7). Vê-lo-á como narração viva da Boa Notícia da incarnação, morte e ressurreição do Verbo, nesta terra?
Quando relembro aspetos da sua história, neste mundo, e releio as suas cartas oportunas e adequadas à realidade vivencial das Irmãs e comunidades RSCM, a quem se dirigia, seduz-me o fogo interior que o movia, a fé inquebrantável que o fazia transpor montanhas, o amor sem limites com que abraçava a missão, a que foi chamado, e o cuidado em incutir no coração de cada religiosa o mesmo espírito.
Tendo Jesus como único modelo, praticou o que dizia dando credibilidade à sua total entrega a Deus e ao serviço dos irmãos mais frágeis; enfrentou momentos bons e menos bons situado no essencial – a vontade de Deus que procurava escutar na oração e na realidade envolvente; incentivou as Irmãs a centrarem as próprias vidas nos corações de Jesus e Maria pois aí encontrariam unidade, alento, e um jeito próprio de viver a humilde relação com os outros: simplicidade, compaixão, misericórdia, proximidade, gratuidade, justiça, paz …
Agradeço-lhe, porque viu muito longe, deixando-nos a perceção apelativa de que o sonho está sempre para lá de quem sonha, não só como algo a alcançar, mas também como energia estimulante de caminhada. Tal como foi para si próprio, assim poderá ser para quem abraçar um percurso vital semelhante. Diz numa das suas cartas: “No caminho de Deus não há descanso. Parar seria perder tudo”. Gosto muito desta ideia de permanente fidelidade aos apelos de Deus na viagem da vida.
Hoje, somos nós – RSCM – que tentamos acolher e dar a conhecer o legado que nos deixou.
O sonho continua!
Neste mundo globalizado, em contínua mudança, voltado para a técnica, para o poder, para a riqueza de alguns…e pobreza extrema de outros, é urgente mostrarmos o agir de Deus no tempo, aceitando o desafio à expansão do nosso carisma sempre atual, à colaboração com outros, ao novo, à criatividade, à simplificação de estruturas, ao reforço da fraternidade e solidariedade, ao respeito por toda a criação, ao cuidado dos mais pobres e fragilizados.
Estou certa de que está connosco
e abençoa os nossos passos.
Com afeto e gratidão,
Maria Antónia, RSCM